Lampião Moderno -
Poema de Carlos Araujo
Lampião, rei do
cangaço
Foi bandido ou foi
herói?
Nem sei se esta é a
questão,
Pois hoje a corrupção
Tem um punhal
cangaceiro
Sem dó e sem piedade,
Sangrando a dignidade
De quem é bom
brasileiro.
O Virgulino moderno
É bandido refinado:
Exibe carro
importado,
Tem jatinho e muito
mais.
A caneta é seu fuzil,
Com ela assalta o
Brasil
Do jeito que sempre
quis:
Feito cupim na
madeira,
Fazendo uma
buraqueira
Nas finanças do País.
Esse novo Virgulino
Não tem chapéu
estrelado,
Não sabe dançar
xaxado,
Nem canta Mulher
Rendeira.
Ele não dorme no
mato,
Ama o conforto e o
bom trato.
E não agüenta repuxo:
Com seu dinheiro e
malícia,
Quando foge da
polícia,
Se esconde em hotel
de luxo.
Não anda pelas
caatingas,
Nem cruza moita de
espinho,
Mas constrói o seu
caminho
Com muito nome
esquisito:
É fraude, é
clientelismo,
É pilhagem, é
nepotismo,
É propina, é
malandragem.
Mas ele não se
contenta:
A tudo isso
acrescenta
A mentira e a
rapinagem.
Quando chega a
eleição,
Sendo ele candidato,
Promete roupa,
sapato,
Dentadura, leite e
lote.
Se tem amigo disposto
A sonegar o imposto,
Ele segura a peteca
Com uma frase
canalha:
- Se eu vencer a
batalha
Eu perdôo essa
merreca!
No palanque faz de
Deus
O seu cabo eleitoral,
Criando o clima ideal
À exploração da fé.
Seu discurso é de
devoto,
Mas sua fé é o voto
Da humilde multidão
Que, inocente, se
dobra:
Vira massa de manobra
Nas garras do
Lampião.
O seu instinto
perverso
É muito sofisticado:
Ele mata no atacado,
Quando desvia milhões
Em cada cheque que
assina.
O bandoleiro
assassina
Gente em escala
brutal
De onde vem a
matança?
Da falta de
segurança,
De médico,
hospital...
É direito da criança
Ensino de qualidade,
Mas dessa realidade
Pouca criança
desfruta.
E quanto ao
saneamento,
Não existe
investimento
Neste importante
setor,
Porque o nosso
dinheiro
Vai parar no
estrangeiro,
Na conta do
malfeitor.
O cangaceiro de hoje
Tem site na Internet
E grava até em
disquete
Os seus planos de
ação.
Certo da impunidade,
Ele se sente à
vontade
Pra dizer sem
embaraço,
Justificando a orgia:
- Lampião nada fazia
Já eu roubo mas eu
faço!
Penso até ser
injustiça
Comparar o Virgulino
Lá do sertão
nordestino
Com esses cabras de
hoje.
Pois de uma coisa
estou certo:
Lampião nem chega
perto
Desses que, de forma
vil
E com bastante
requinte,
Saqueiam o
contribuinte
Que ainda crê no
Brasil
Ah, capitão
Virgulino,
Que andas fazendo
agora?
Chega de tanta
demora.
Sai dessa cova
ligeiro,
Vem retomar teu
reinado!
Anda logo,
desgraçado,
Chama teus cabras de
fama,
Traz Corisco e
Ventania,
Quinta-Feira e
Pontaria,
Tira o país dessa
lama!
Chama Dadá, traz
Maria,
Pra te dar
inspiração,
Traz Canário e
Azulão.
Onde andam Moita
Brava,
Jararaca e Zé Sereno,
Que provaram do
veneno
E Bem-Te-Vi, bom de
briga,
Cantando a mesma
cantiga,
Não vai fugir da
peleja.
Não esquece Volta
Seca,
Sabonete e Jitirana,
Que viravam caninana,
Nos instantes de
combate.
Chama também Zé
Baiano,
Pois entra ano e sai
ano
E a coisa fica mais
feia.
Já são muitos
excluídos
E a culpa é de
bandidos
Que precisam levar
peia!
Anda logo, que o
Brasil
Já se cansou do teu
mito,
Ouve o apelo e o
grito
Do povo deste país.
Mas cuidado, Capitão,
Cuidado com a
mangação
Que pode ser um
horror.
Já tem corrupto
espalhando
Que, em formação de
bando,
Lampião era
amador!"
Extraído do blog:
Juarez Morais Chaves
http://xiquexiquense.blogspot.com/2011/12/lampiao-moderno.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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